OS SOBREIROS
SONHAM
Os sobreiros sonham
sonhos desvairados,
que só os
pastores
e as pedras
suspeitam.
Sonham que são
livres
e vão pelo mundo,
com raízes de água
e cabelos
soltos.
No céu par
lavrar,
as nuvens são
cardos
e o sol um
milhafre
que esvazia os
olhos.
Dos sonhos só
resta
a angústia que
os ousa.
A angústia é
concreta.
Os sonhos são
sombras.
Seguros à terra
com garras de
bronze,
os sobreiros
sonham
impossíveis
rumos.
in Obra Poética,
vol. III - de Armindo Rodrigues (1904-1993)
|